segunda-feira, 26 de abril de 2010

Artilharia da Copa do Mundo de 1978

Olá, Pessoal!!!

A nossa série sobre Copas do Mundo chega a sua décima-primeira edição na Argentina. Uma Copa cercada de polêmicas, de mistérios e de uma pergunta que não quer calar: A quem interessaria aquela marmelada peruana além dos argentinos, que foram beneficiados?

E novamente a política respingaria na Copa do Mundo, desta vez de forma muito cruel. Para entender melhor o que aconteceu, vamos voltar para 1976, onde houve o golpe militar que depôs a presidente Maria Estela Martinéz de Perón assumindo em seu lugar o general Jorge Rafael Videla, considerado o mais sanguinário de todos os generais sul-americanos. Ficou 4 anos no poder o suficiente para mandar torturar, chacinar e "desaparecer" várias pessoas naquele país.

E é claro, como todo bom ditador que se preze, o general argentino usou a velha tática que funcionava desde os primórdios da história, á tática do "pão-e-circo" para distrair as pessoas e fazê-las esquecer daqueles "terroristas" que atacavam a "boa saúde" do país. Em suma, fez uma imagem bonita por fora para que todos vissem a "prosperidade e a calma" do país, mas internamente a situação era de caos e morte.

A seleção da Argentina, naquela Copa, era muito boa e em condições normais certamente seria campeã sem ajuda dos bastidores. Mas logo os "pistolões militares" começaram a agir para que o título não sairia da Argentina. Primeiro, fizeram com que os argentinos não viajassem muito para evitar o cansaço da equipe enquanto que equipes como o Brasil tiveram que viajar mais de 4000 quilômetros entre um jogo e outro. Depois, foram beneficiados no jogo contra a Hungria pelas expulsões esquisitas de Torocsik e Nyilasi pelo árbitro e sem falar ainda de uma das maiores vergonhas da história das Copas, com aquela goleada mais do que esquisita em cima do Peru de 6 x 0. Imagina só se fosse seu time do coração que fizesse essa maracutaia toda de afrouxar a marcação, dar passes errados de propósito, seu goleiro franguear em todos os chutes a gol e depois de tudo isso os jogadores do seu time tivessem a cara-de-pau de dizer que jogaram com orgulho e perderam com honra e o técnico com a maior cara-de-pau ainda de dizer que a equipe saiu de cabeça erguida!!!
Sem dúvida, você, que é torcedor íntegro e honesto que paga o seu ingresso todo santo final de semana pra ve-los jogar, lincharia todos os jogadores e a comissão técnica por isso, certo?
E foi exatamente isso que a torcida peruana fez quando o time chegou a Lima. Um merecido linchamento.

Apesar dessas suspeitas todas, poderíamos dizer que essa foi a Copa dos gols bonitos. Aquele chutaço de fora da área do holandês Arie Haan contra a Itália que valeu a passagem da Holanda pra final, aquele de curva do lateral Nelinho que todo mundo não se cansa de ver nos DVDs de Copas do Mundo contra a Itália que foi ao mesmo tempo obra de arte e de qualidade e aquele do escocês Gemmill contra a Holanda onde driblou toda a zaga em um curto espaço antes de finalizar são três belos exemplos.

Nessa Copa, começaram a surgir três boas gerações de jogadores que encantariam o mundo nas Copas seguintes: a francesa, a alemâ-ocidental e a italiana.

A França, apesar de ter caído fora na primeira fase, mostrou um belo time com jogadores como Six, Tiganá e o ainda garoto Michel Platini que fariam furor anos depois, A Alemanha Ocidental, que revelou-se um bom time nessa Copa liderado por um jovem jogador que faria um grande sucesso mais tarde, Karl Heinz Rummenigge, considerado por muitos o sucessor de Beckenbauer e a Itália, que honrou o quarto lugar e revelou jogadores como Bettega, Conti, Scirea e principalmente Paolo Rossi que teria, quatro anos depois, um papel de impacto que mudaria a história do futebol para sempre.

Mas ao mesmo tempo, despedia-se uma geração de grandes talentos que reuniam-se em uma só seleção, a Holandesa.
Quase todos os jogadores estavam lá, exceto Cruyff que era um ferrenho opositor da ditadura militar argentina e por pouco, muito pouco mesmo não fizeram um "monumentazo" com aquela bola na trave do Rensenbrink no último minuto. Foi uma pena, os holandeses mereciam coisa muito melhor...

Já o Brasil novamente decepcionou em 1978. Um time não tão covarde como o de 1974 mas inseguro, apático e principalmente teórico demais. Os jogadores preocuparam-se demais com as táticas e esqueceram do mais importante: jogar bola. E o técnico Cláudio Coutinho inventou tanto que acabou se perdendo durante a Copa com suas teorias. Entre outras coisas, colocou o Nelinho como atacante e o Gil como lateral-direito!!! Evidente que não funcionaria.
Mas podemos dizer ainda que o Brasil foi "decepcionado" pelas circunstâncias no mínimo misteriosas dessa Copa. No jogo contra a Suécia, o juíz terminou o jogo no momento em que o Zico marcava o gol da vitória brasileira de cabeça em um escanteio da direita. Pelo bom senso, o juíz teria que terminar APÓS o lance ter ocorrido e não no meio dele. Dá a entender que o Brasil foi prejudicadissimo nesse jogo. Se terminasse em primeiro no grupo, certamente não enfrentaria a Argentina como ocorreu em Rosário e nem tampouco teria que jogar mais cedo contra a Polônia e ver a seleção peruana praticamente entregar sua honra aos argentinos em troca de milhões de dólares. Em tudo isso, dá pra dizer que o Cláudio Coutinho tinha uma certa razão em dizer que o Brasil foi campeão moral, mas no mundo do futebol há muita sacanagem e desonestidade e na maioria das vezes, o mal vence o bem infelizmente...

E uma menção honrosa a Seleção da Tunísia, que tinha tudo pra ser um saco de pancadas e terminou levando para a África a primeira vitória em Copas do Mundo deixando esse posto para os mexicanos.

E sem mais delongas, vamos para os artilheiros. Uma curiosidade antes disso: o artilheiro dessa Copa, o meu xará Mário Kempes só foi goleador graças a uma bela raspagem de bigode que deu muita sorte a ele. O que teve de gente que raspou a barba pra marcar gols depois disso...

Com 6 Gols: Kempes (Argentina)

Com 5 Gols: Rensenbrink (Holanda); Cubillas (Peru)

Com 4 Gols: Luque (Argentina); Krankl (Austria)

Com 3 Gols: Rummenigge (Alemanha Ocidental); Dirceu e Roberto Dinamite (Brasil); Rep (Holanda); Paolo Rossi (Itália)

Com 2 Gols: Dieter Muller e Flohe (Alemanha Ocidental); Bertoni (Argentina); Nelinho (Brasil); Gemmill (Escócia); Brandts e Haan (Holanda); Bettega (Itália); Boniek e Lato (Polônia)

Com 1 Gol: Abramczik, Hansi Muller e Holzenbein (Alemanha Ocidental); Houseman, Passarella e Tarantini (Argentina); Obermayer e Schachner (Áustria); Reinaldo e Zico (Brasil); Dalglish e Jordan (Escócia); Asensi e Dani (Espanha); Berdoll, Lacombe, Lopez, Platini e Rocheteau (França); Poortvliet, René Van der Kerkhof e Willy Van der Kerkhof (Holanda); András Toth, Csapó e Zombori (Hungria); Danaifar e Rowshan (Irâ); Causio e Zaccarelli (Itália); Rangel e Vazquez Ayala (México); Cueto e Velasquez (Peru); Deyna e Szarmach (Polônia); Sjoberg (Suécia); Dhouieb, Ghommidh e Kaabi (Tunísia)

Gols Contra: Berti Vogts (Alemanha Ocidental) a favor da Áustria; Brandts (Holanda) a favor da Itália); Eskandarian (Irã) a favor da Escócia

Notas da Copa: Foram marcados nessa Copa 103 gols em 38 jogos com média de 2,68 por jogo. Uma média normal...
Nessa Copa, ocorreu o milésimo gol na história das Copas feito por Rensenbrink contra a Escócia cobrando pênalti.
Além desse registro, a Holanda deixou outros dois registros históricos: teve o único jogador na história das Copas do Mundo a marcar um gol contra e outro a favor no mesmo jogo, que foi Brandts contra a Itália e Rene Van de Kerkhof e Willy Van de Kerkhof foram os primeiros (e únicos) irmãos gêmeos a marcar gols em uma mesma Copa do Mundo.
Dois jogadores chegaram ao hat-trick nessa copa que foram Rensenbrink e Cubillas que fizeram três gols cada um contra o Irâ. Pena que esse último participou daquele arranjo....
E a Argentina chegou ao seu gol de número 50 nessa Copa. O gol foi marcado por Houseman no jogo contra o Peru, aproveitando, digamos, uma moleza da zaga adversária em um cruzamento de Ortiz e chutando fraquinho para um frangaço suspeito do Quiroga...
E vale lembrar que foi esse gol histórico que mandou a Argentina pra final daquela Copa e pro título. Era tudo que os militares queriam para legitimar a ditadura. E se não fosse a bobagem de declarar guerra a Inglaterra por causa das Malvinas, certamente os militares estariam no poder até hoje na Argentina matando, torturando e assassinando inocentes, e o futebol, nesse caso, foi utilizado infelizmente como o ópio do povo, algo que muitos políticos oportunistas gostam de dizer e de condenar um esporte tão apaixonante como este.

Até a próxima, com a Copa de 1982, na Espanha, Hasta La Vista!!!!

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