terça-feira, 20 de abril de 2010

Artilharia da Copa do Mundo de 1974

Olá, pessoal!!

Seguindo a nossa série sobre as Copas do Mundo, chegamos agora a 1974, na então Alemanha Ocidental (na época a Alemanha estava dividida) para a sua décima edição.

Essa copa me faz lembrar uma piada de papagaio, aquela em que encontra um homem e fala que a casa era nova, a mulher era nova, o carro era novo mas o dono era o mesmo. Trocando pra linguagem do futebol, esse papagaio poderia falar que a taça é nova, o país é novo, o presidente da FIFA é novo mas o campeão era o mesmo, como vai, dona Alemanha!!!!

E os alemães-ocidentais (Sim, a Alemanha Oriental também jogou e não decepcionou, chegando a segunda fase e derrotando inclusive a própria Alemanha Ocidental nessa Copa) mereceram ganhar aquela Copa mesmo. Mas por pouco que essa festa não acontece. Como sabemos, o técnico Helmut Schon era aquele típico técnico que não dava muitas liberdades para os jogadores, mas foi convencido por Beckenbauer a afrouxar um pouco mais as regras, pois o capitão do time acreditava que com a presença das namoradas e esposas, os jogadores poderiam se motivar mais para conseguir o título. E foi tiro e queda. Cresceram de produção e surpreenderam o mundo novamente ganhando o título em cima da favorítissima Holanda.

Sim, os holandeses foram os grandes revolucionários dessa Copa graças ao seu carrossel mágico e seu futebol total, onde todo mundo podia atacar e defender ao mesmo tempo, fazendo confundirem os adversários que ficaram sem saber a quem marcar, já que ninguém tinha posição fixa no campo.
Dizem os boatos da época que eles eram um pouco marrentos, cobrando inclusive cachê para os autógrafos dos torcedores mas apesar dessas coisas todas, tinham um time que maravilhava a todos os amantes do futebol bem jogado. O símbolo desse time era Johan Cruyff que marcava, armava e finalizava como poucos. O Brasil que o diga.

Essa Copa foi praticamente um replay de 1954, com a diferença que houve menos gols do que aquela (ver notas da Copa) e não houve uma pancadaria generalizada como houve naquele jogo Brasil x Hungria (ver Artilharia da Copa de 1954 para mais detalhes) mas teve momentos tanto dramáticos como cômicos.
Os chilenos, por exemplo, tinham retornado a Copa após 8 anos e de uma forma polêmica. Tudo porque a União Soviética tinha se recusado a jogar no estádio Nacional pelo fato de muitas pessoas terem sido barbaramente executadas pela Guarda Nacional do presidente ditador Augusto Pinochet que tinha derrubado Salvador Allende no ano anterior. E para piorar mais as coisas, o seu atacante Carlos Caszely, que era ferrenho opositor do Pinochet, acabou expulso no jogo contra a Alemanha Ocidental levando como "prêmio" a proibição de jogar futebol em seu próprio país. Se exilou na Espanha depois disso.
Já o Haiti e o Zaire (hoje República Democrática do Congo) foram a parte cômica dessa Copa. O primeiro pelo fato esdrúxulo de ter o primeiro jogador que foi pego no anti-dóping, o zagueiro Jean-Joseph que levou uma bela surra dos seguranças da delegação haitiana no dia seguinte por causa disso. Pelo menos isso foi compensado pelo gol que o Sanon marcou em cima do Dino Zoff, acabando com uma marca de quase 1200 minutos sem tomar gol. E os congoleses....

Olha, esse time fez de tudo, menos gol. Levou uma goleada sonora da Iugoslávia sendo que o goleiro Kazadi pediu pra sair pelos frangaços que tomou, sendo substituído pelo reserva Tubilandu, que era outro frangueiro de marca maior e levou outros tantos. No jogo contra o Brasil, o zagueiro Mwepu deu um bico na bola em uma cobrança de falta pro Brasil e levou cartão amarelo e sem falar na cacetada absurda que deu no juíz Oscar Delgado na partida anterior. Só que o expulso foi o N´Daye, por engano do juíz. E para terminar a epopéia africana, quando os jogadores chegaram em casa, descobriram que não tinham mais casa e nem carro porque o ditador Joseph Mobutu confiscou tudo depois do fiasco na Copa. Nesse caso, o ditador estava com a razão.

Mas também teve boas surpresas como o caso da Polônia, que veio na dela, fez uma espetacular primeira fase em um verdadeiro "grupo da morte" com Argentina e Itália e terminando na frente das duas seleções, fez uma boa segunda fase e terminou em um ótimo terceiro lugar com uma vitória merecida sobre o Brasil. Tinham uma boa equipe comandada por jogadores como Deyna, Szarmach, o bom goleiro Tomaszewski que se especializava em pegar pênaltis e principalmente o veloz e goleador atacante Lato. Veloz mesmo, o cara corria 100 metros em 10 segundos, tempo digno de Usain Bolt!!!

E a própria Argentina que apesar dos trancos e barrancos conseguiu chegar entre os oito primeiros revelando bons jogadores que dariam muito o que falar nas copas seguintes como o goleiro Fillol e o atacante Mário Kempes. E também a Alemanha Oriental, já citada parágrafos acima.

Já o Brasil foi uma decepção só nessa Copa. Tudo bem que sentiram muito a falta do Pelé mas o Zagalo tinha que formar um time tão retranqueiro assim? Sim, um time sem alma e sem vontade de atacar, que envergonhava a torcida. Ficamos em quarto lugar, é verdade, mas um desmerecido posto pelo que fizeram em campo. Bom, o exemplo emblemático disso que falei foi a partida contra o Zaire (atual República Democrática do Congo) onde precisava vencer por três gols de diferença para não ficar fora da primeira fase e só conseguiu o feito depois de um frangaço homérico do goleiro Kazadi em um chute lotérico e desesperado de Valdomiro. E ali foi o sinal da grande vergonha que foi a Seleção Brasileira naquela Copa. Nada como uma Holanda para fazer voltar a triste normalidade...

Outra decepção foi a Itália, que veio com o objetivo de fazer uma boa campanha e acabou indo embora na primeira fase devido a brigas constantes entre os jogadores e o técnico e a vaidade de alguns deles, como Riva e Rivera que fizeram beicinho ao serem barrados pelo técnico e não foram treinar em desagravo. Vaidade só destrói....

E sem mais delongas, vamos aos artilheiros que fizeram o seu nome nessa copa:

Com 7 Gols: Lato (Polônia)

Com 5 Gols: Neeskens (Holanda); Szarmach (Polônia)

Com 4 Gols: Gerd Muller (Alemanha Ocidental); Rep (Holanda); Edstrom (Suécia)

Com 3 Gols: Paul Breitner (Alemanha Ocidental); Houseman (Argentina); Rivelino (Brasil); Crujff (Holanda); Bajevic (Iugoslávia); Deyna (Polônia)

Com 2 Gols: Overath (Alemanha Ocidental); Streich (Alemanha Oriental); Yazalde (Argentina); Jairzinho (Brasil); Jordan (Escócia); Sanon (Haiti); Karasi e Surjak (Iugoslávia); Sandberg (Suécia)

Com 1 Gol: Bonhof, Cullmann, Grabowski e Hoeness (Alemanha Ocidental); Hoffmann e Sparwasser (Alemanha Oriental); Ayala, Babington, Brindisi e Heredía (Argentina); Valdomiro (Brasil); Bonev (Bulgária); Ahumada (Chile); Lorimer (Escócia); De Jong, Krol e Rensenbrink (Holanda); Anastasi, Benetti, Fábio Capello e Rivera (Itália); Bogicevic, Dzajic, Katalinski, Oblak e Petkovic (Iugoslávia); Górgon (Polônia); Torstensson (Suécia); Pavoni (Uruguai)

Gols Contra: Perfumo (Argentina) a favor da Itália; Curran (Austrália) a favor da Alemanha
Oriental; Krol (Holanda) a favor da Bulgária

Notas da Copa: Foram marcados 97 gols em 24 jogos com média de 2,55 por jogo. Uma média meio baixa...
O gol de Paul Breitner cobrando pênalti contra a Holanda foi o de número 100 da Alemanha na história das Copas.
Já a Itália atingiu o seu gol de número 50 nessa Copa marcado por Benetti no jogo contra o Haiti em um chute que desviou em Auguste antes de entrar.
Dois jogadores atingiram o hat-trick nessa Copa: Szarmach, da Polônia, que fez três gols contra o Haiti e Bajevic, da Iugoslávia que fez três gols contra o Zaire (atual República Democrática do Congo). Curiosamente, é pela primeira vez na história das Copas que o goleador da competição não marca um hat-trick.
O segundo gol de Héctor Yazalde contra o Haiti foi o de número 900 na história das Copas em um chute de esquerda no canto.
Austrália e Zaire (atual República Democrática do Congo) não marcaram gols nessa edição da Copa do Mundo.

Até a próxima, com a Copa de 1978, na Argentina. Hasta Luego!!!

Um comentário:

Rafael Kafka disse...

Parabéns pelo blog fantástico!

A falta de respeito dos portais e jornais ao não publicar súmulas completas é um atentado sobre a reflexão e análise histórica do futebol!

Pena a Holanda não ter ganho 74, o futebol, certamente, seria bem melhor hoje!